Culto e Religião na perspectiva de Jó e Qohélet

Resumo

O presente trabalho visa apresentar a perspectiva dos livros de Jó e Qohélet a respeito do culto e religião. Tanto Jó, quanto Qohélet, fazem parte da chamada “literatura sapiencial bíblica”. Entretanto, os referidos livros distam grandemente em diversos aspectos aos demais escritos sapienciais bíblicos. Seu aparecimento se dá no contexto da crise da sabedoria tradicional, assentada em demasia sobre os dogmas da teologia da retribuição. Jó é um grito do justo e inocente que sofre, enquanto os injustos prosperam. Sua obra não é uma resposta para o sofrimento do justo. Não há uma teologia de justificação ou de retribuição posterior. Antes, dotado de um realismo profundo, Jó objetiva-se ser o lamento do justo que sofre, porém confia em Deus até o fim. Qohélet, por sua vez, questiona-se sobre a “vanidade” da vida, sua fugacidade e a impossibilidade do ser humano de, verdadeiramente, poder possuir algo a que tenha direito a retribuição. Em relação ao culto e a religião, tanto Jó, quanto Qohélet, revelam-se defensores da possibilidade do culto absolutamente gratuito, sem a menor perspectiva de que Deus irá se constranger a agir em favor do suplicante. Culto e Religião são, nas obras em questão, expressão do louvor sincero e desinteressado, que não tenciona obter de Deus a solução para os problemas do tempo presente.